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é mesmo uma questão de associação. ligar o preto com o branco, bloquistas com a juventude popular, fc porto com benfica, vodafone com a tmn, e descobrir que elvis, afinal, está vivo e desfruta de um tê-dois na praia da vagueira. faça o favor de limpar os pés antes de entrar, que a empregada da limpeza saiu para o ministério das finanças. livro amarelo: molin@aeiou.pt - aceitam-se insultos

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sábado, novembro 22, 2003

 
Aleluia, Saravá, Já não era sem tempo...

Demorou, mas lá consegui introduzir comentários nesta coisada! Agora já podem dizer de vossa justiça, esconjurar, criticar, mal-dizer, chamar nomes (tenho que colocar uma bolinha vermelha no canto superior direito) e tudo o que vos apetecer. Pode ser que, desta forma, o meu companheiro Germano se sinta mais inspirado para voltar a escrever no Elvis, ele que tem andado muito arredado das lides bloguistas.
Este post era só para dar início às hostilidades, por isso...
COMMENCE AU FESTIVAL!



sexta-feira, novembro 21, 2003

 
Baía do universo

Está uma noite fria, mas o que importa a temperatura se por dentro estamos tão quentes como se o sol brilhasse alto, como nos dias de Verão? No horizonte da vista está uma baía toda iluminada pelas luzinhas dispersas dos apartamentos dos prédios em estilo Newport, do início do século (bom, talvez anos 20, 30), época em que a cidade se tornou numa importante estância balnear, onde a nata da sociedade vinha passar férias e fugir do interior urbano e irrequieto de tempos conturbados, entre as duas Grandes Guerras. Uma cidade virada para o mar, que parece abraçar de forma graciosa uma pequena entrada da água pela terra dentro, onde só se consegue imaginar aqueles fatos de banho de alças e calções, combinados numa peça só. De mãos dadas, tal e qual um par de namorados que vivem tempos de amor nunca antes conhecidos. Vê-se nos olhos de cada um deles.
Passos longos, mas pausados, a saborear o fresco da noite às portas do Inverno, mas com um céu imensamente estrelado, sem um único vestígio de nuvens ameaçadoras de chuva. Milhares de luzes ínfimas, de um brilho intenso só comparável às três estrelinhas que ela tem na orelha esquerda e que o faz recuar não muito longe no tempo, para lembrar como, afinal, tudo começou.
Cada vez que falam - e falam muito! - é como se tudo começasse de novo. A sensação de partilha dos segredos mais íntimos faz com que cada um deles sinta que tudo parece ser novidade, como se nenhuma das palavras que vão sendo ditas tivessem sido, alguma vez, proferidas. Tudo tem o encanto da primeira vez e, estar ali, é mesmo uma estreia e só isso transforma os seus rostos. Como nos dias de chuva quando, de repente, irrompe no céu um enorme arco-íris, perfeito, em que a olho nu se podem distinguir qualquer uma das sete cores que o compõe, qual delas a mais nítida, a mais visível, a mais delineada, a mais cativante. Como se até de noite fosse possível ver, algo que só a luz descobre.
A curva da baía vai sendo, calmamente, dobrada, sem pressas de chegar à outra extremidade, onde um edifício em tons amarelados (quem sabe do reflexo da luz que lhe é apontada) se destaca do resto paisagem. Por trás, embora não logo imediatamente, surge um enorme morro, de pedra pura, alto, a cair a pique, sem qualquer declive que o torne acessível a pé, dá por terminada uma das pontas da baía. E é pelas ruas pavimentadas em lajes grandes de cimento que exploram os bares típicos da região. A agitação em cada um deles dá vontade de parar em todos. Todos diferentes, todos iguais. A escolha parece difícil, mas em algum têm de sentar e comer. E beber. Experimentar o que não se vê todos os dias e ouvir ainda outras histórias de locais parecidos, mas longe de haver recordações semelhantes. O que há de idêntico ao momento que estão a viver, para poderem contar algo que esteja relacionado? Nem vale a pena fazer um esforço de memória.
Ele sai com o braço por cima dos ombros dela e continuam a explorar as restantes ruas de um bairro simples de se perceber: os quarteirões são paralelos e os caminhos perpendiculares. Uma geometria simples para um quadro nada abstracto, muito concreto até, que um dia foi sonhado com um só objectivo. O sorriso de satisfação dela fazia-o entender que tal tinha sido cumprido. Não que tivesse sido pensado como uma meta, mas porque a sua felicidade é vê-la feliz, com todas as estelas que brilham no límpido escuro do céu concentradas no seu olhar, no momento em que páram num bancos da avenida, virados para a baía.
Não há barulho de ondas. Os braços de terras que acolhem aquele pedaço de mar, deixam a agitação das águas fora de perigo e nem os poucos iates ancorados na enseada balançam. Ele deita-se no banco, com a cabeça no colo dela e fica com uma perspectiva que nem em sonhos se tinha lembrado que seria possível. Em perfil vertical, com o queixo e o nariz mais salientes, a sua silhueta contrasta com negro em pontos brilhantes do infinito. E pensa: "Ela é o meu universo..."

Para Ti



quarta-feira, novembro 19, 2003

 
Ainda o dia no campo

O suave correr das águas nas pedras, que fazem lembrar abóboras gigantes, confundem-se com o agitar das folhas, num recanto tão íntimo tanto quanto queríamos. Ainda de mão dada, e de olhos fechados, saboreamos a tranquilidade, não a qualquer custo e sem pensar que temos de aproveitar o momento mesmo até ao seu fim. É bom deixar passar o tempo assim.
Estava na hora de começar a descarregar as compotas, as torradinhas, os patés, as bolachas com recheio de leite condensado, iorgurtes líquidos para mim, sumo de laranja que eu próprio espremi, para ti, mais uns bocadillos de tortilha que fizemos na noite anterior e as peças de fruta que nos fomos lembrando de trazer. Maçãs, morangos, tangerinas - daquelas com casca balofa -, e uma mousse de manga para estrearmos aquelas tijelas pequeninas, que comprámos para condizer com os azulejos da cozinha.
A conversa foi como as cerejas. Os assuntos vieram atrás uns dos outros e nem percebemos que saltávamos a meio, para nos perdermos em beijos e numa interminável troca de carinhos, que nada conseguiu interromper. Sabia tão bem que nem o facto do sol se esconder cada vez mais depressa fez com que tivéssemos vontade de regressar. De um dos cestos tiro um cobertor em lã de merino para nos cobrir as pernas. Pego na tua mão e delicio-me com o leve aroma de tangerina, não por teres sido tu a descascá-las, mas porque foste tu quem colocou os gomos na minha boca. Quentinhos e escondidos, debaixo do cobertor, a nossa respiração torna a temperatura quente demais e destapamos, ligeiramente, a tenda meio improvisada. O contraste do quente para o frio, que tu tanto adoras meu amor, dá-nos uma sensação de liberdade, como se tivessemos estado num banho turco e saído, de repente, para o ar livre.
Um enorme clarão alaranjado, vindo do lado do mar, pinta o céu, já num final de tarde fresco. Mas tu lembras-te de tudo. Ainda bem que trouxemos os forros polares, pois se a Primavera proporciona dias de óptima temperatura, as noites ainda não são assim tão agradáveis para podermos querer ficar ao relento, como se estivessemos no campismo, a dormir com a cabeça de fora da canadiana, ou mesmo trazendo alguns colchões esponja e dormir cá fora.
Antes de ir embora apanho umas flores soltas, típicas do campo, com predominância para as cores violeta, rosa velho, amarelo, numa mistura algo surrealista, mas como só as espécies selvagens conseguem dar. Cores que não se conseguem ver em mais lado algum, como se as próprias tonalidades fossem, também elas, uma selvagem dádiva da natureza, inimitável pela ansiedade humana de controlar tudo o que se lhe apresenta como belo.
Por isso que as flores condizem bem contigo. Inimitável e de uma incontornável beleza, nem comparável ao efeito do traço vermelho escuro do último raio de sol que ainda é possível ver no horizinte, agora que nos dirigimos para o lado do mar, no regresso a casa, depois de uma tarde magnificamente passada e ainda mais sentida.
Ligo o carro, coloco um cd e começa a ouvir-se:
O meu amor tem um jeito...

Para Ti

 
Um dia no campo

Há tanto tempo que estava prometido... O entusiasmo começa logo na preparação. Afinal, qual será o objectivo de um piquenique? Comer ao ar livre ou ficar deitado na toalha de tecido aos quadrados vermelhos e brancos, a olhar para o céu azul e a ouvir o vento a soprar por entre as folhas verdes das árvores, fortes, como a Primavera se encarrega sempre de fazer ao mostrar todo o seu esplendor, com as pétalas das margaridas de um branco imaculado, o centro da flor de um amarelo ainda mais resplandescente que o próprio sol, as andorinhas a voar a uma velocidade estonteante, com aquelas viragens repentinas no ar, mudando o curso das suas acrobacias, como se não soubessem para onde vão. Nós sabíamos bem para onde íamos, ao encontro de tudo o que pudesse significar paz de espírito, em perfeita comunhão com a natureza. Dois cestos cheios de tudo o que pudemos encontrar para matar uma fome que viria mais tarde ou mais cedo, ou não fosse o ar do campo fértil em fazer revelar um apetite que até os mais desleixados não ousariam de contrariar.
E fizemo-nos à estrada. Em direcção ao interior, não muito distante, mas o suficiente para não se ouvir um único som que identificasse civilização e muito menos urbanismo, aqueles incessantes ruídos, que até a simples passagem do sinal vermelho para o verde incomoda, quando tudo parece estar contra a nossa vontade.
Guardo a imagem de uma casa antiga, com uma eira em plano mais elevado onde se malhava o milho, na época da desfolhada, com um caminho de terra batida, com as marcas dos rodados dos carros de bois e com erva seca já dos muitos Invernos e Verões rigorosos a que foi sujeita. Há um leve aroma a pólen a circular, que se vê a olho nu, pois há partículas a flutuar no ar que brilham com a incidências dos raios de luz que conseguem passar a videira que cobre o caminho em direcção ao riacho. Começas a espirrar e aceleramos o passo, quase em ritmo de corrida para podermos chegar depressa ao pequeno relvado natural que existe na pequeníssima enseada que existe na curva perfeita que o riacho tem antes de dar num rápido de corrente, cravado de pedras redondas, do tamanho de abóboras gigantes. Dispostas de tal forma que até se poderia dizer que ali foram colocadas de propósito para dar aquele efeito de mini-cascata a um riacho que em profundidade nos dará, no máximo, pela cintura.
A frescura da água gelada que corre sente-se no ar e faz esbater o concentrado das flores, que se mistura com o respirar e nos alimenta de um odor que até o corpo estranha, de tão saudável que é. É hora de pousar os cestos, estender a toalha e deitar, de barriga para cima, a observar o algodão imperfeito das nuvens a contrastar com um azul que nos faz pensar não haver outra cor no mundo que pudesse transmitir tanta serenidade.
Deixo de ter o braço estendido e dobro o cotovelo, colocando a minha mão aberta à espera que os teus dedos cruzem com os meus. Aperto-os ligeiramente e deito os olhos na tua direcção. Sorrio e pergunto: "És feliz?"
Um apertado nó na garganta só te deixa acenar com a cabeça, para me dizeres que sim. "Ainda bem. Porque tu também me fazes muito feliz".

(continua)

Para Ti



terça-feira, novembro 18, 2003

 
Luz dia e noite

Porque gosto de imaginar-te como o sol dos meus dias, que me ilumina para onde quer que vá ou por onde quer que ande, hoje olhei para o céu estrelado e imaginei uma enorme manta escura cheio de buraquinhos pequeninos por onde passa a luz do meu dia, que também brilha para mim até de noite. Assim, nunca estás longe e muito menos ausente.

Para Ti



segunda-feira, novembro 17, 2003

 
Um amor que não sai mais

Sentado na mesma praia onde um dia vi o sol por entre os teus cabelos, imaginei uma garrafa a vir até mim, numa ondulação tão suave que nem as conchas conseguem embrulhar-se na rebentação, junto ao areal. É a força da maré que a faz chegar, com um brilho característico do vidro suado pela água do mar, que parece ter centenas de estrelinhas a cintilar, com a quantidade de salitre que nela vem agarrado. Levanto-me na sua direcção e vejo, pela transparência do vidro, que há um papel branco dentro, sem uma única ruga de infiltração de água, como se alguém tivesse acabado de a deitar aos meus pés.
Limpei a garrafa com todo cuidado e tirei a rolha, para ver o que estava no papel. “Preciso de ti”, dizia, numa letra arredondada, meio achatada, mas muito certinha na forma como estava escrita. Estaria eu a ler os meus próprios pensamentos, ou alguém queria dizer o mesmo que eu, para um destinatário escolhido de forma aleatória? Nem me detive a pensar de onde viria tal mensagem, porque como tudo na vida, o mais importante não é saber de onde se vem, mas sim para onde se vai.
E foi, então, com essa garrafa e sempre com a mensagem na minha memória, que decidi começar a construir um futuro para os dois. Concentrei-me na tarefa e dei o melhor que sei para que nada fosse deixado ao acaso. Decidi fazer um barco dentro da garrafa. Pois se ela foi feita vazia, seria a nossa dedicação que iria encher esse espaço ocupado de nada, transformado em pouco tempo, no tudo o que tínhamos para dar. Com o teu carinho, afecto, ternura, simplicidade e imensa beleza interior deste os melhores materiais que poderia ter. Bastou juntá-los ao meu reconhecimento por tudo o que me deste, a minha admiração, o meu orgulho, o meu fascínio, e o meu proibido agradecimento para começar a dar forma ao barco, com os seus mastros bem erguidos em direcção ao céu, velas desfraldadas para navegar à maior velocidade que o vento o possa permitir, e forma imponente para resistir às maiores tempestades pelas quais poderá ter de passar.
Fico extraordinariamente feliz de o ver navegar com tanta segurança, fruto da confiança que cada um dos dois tripulantes têm um no outro. Não há dúvida que o destino só pode ser o melhor porto de abrigo, que alguma vez tenhamos visitado. E mesmo que o caminho até lá não seja o mais o pacífico, nem que haja Cabo das Tormentas a dobrar todos os dias, não nos podemos esquecer nunca que, depois dos mastros ao alto e das velas soltas ao vento, já não há ninguém capaz de tirar o barco da garrafa. É grande demais para caber no gargalo. Um amor que não sai mais...

Para Ti





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