Associação Cultural e Recreativa de Ideias 
  corner   



HOME

ARCHIVES


é mesmo uma questão de associação. ligar o preto com o branco, bloquistas com a juventude popular, fc porto com benfica, vodafone com a tmn, e descobrir que elvis, afinal, está vivo e desfruta de um tê-dois na praia da vagueira. faça o favor de limpar os pés antes de entrar, que a empregada da limpeza saiu para o ministério das finanças. livro amarelo: molin@aeiou.pt - aceitam-se insultos

Blogs diários RECOMENDADOS
Eduardo
Fata Morgana
GreenShadow
Thita
Titas
Vodka7

 

terça-feira, dezembro 16, 2003

 
Não demores...

Voltaste a partir. E contigo foi um bocadinho de mim. Deixaste o mais importante, mas isso não significa que não sinta a tua partida como se parte de mim tivesse partido contigo. Leva-me e traz-me de volta. São e salvo. Leva o meu bocadinho e cuida dele como se a tua própria vida dependesse dele. Só assim terei a certeza que voltas com a mesma vontade com que me levaste contigo e me deixaste o mais importante. Agora mais um motivo para desejar que o tempo passe depressa. Estou à tua espera, mas não demores...



segunda-feira, dezembro 15, 2003

 
Como é ser Pai Natal?

No início da semana passada, recebi o convite da educadora de infância da minha filha mais nova para fazer de Pai Natal, na festa lá do Infantário. Eram três, mas eu ia distribuir as prendas pelos anos dos mais novos. A princípio fiquei meio a pensar se havia de aceitar ou não, porque não faz muito o meu género fantasiar-me (detesto Carnaval), ainda para mais em frente a dezenas de pais e mães, de câmaras apontadas para ravar a reação do filho, ou filha, quando fosse receber a prenda de Natal.
Jurio que estive mesmo para recusar amavelmente o convite, mas como era o último ano que iam estar naquela escola, também queria experimentar para saber o que era.
É claro que já sabia que as minhas filhas poderiam ser as únicas a não vir receber a prenda do Pai Natal, o próprio pai, que não consegui disfarçar quem era por causa dos óculos que uso. Ainda pensei em não levá-los, mas avisei logo que teria de estar alguém ao meu lado, não fosse eu, sem óculos, dar a prenda ao pai em vez de dar ao filho (passo o exagero, mas a miopia tem destas coisas...)
E, pronto, aceitei.
As peripécias começaram logo quando me mandaram vestir o fato, porque tive de sair do "camarim" — como eu chamei à sala de arrumos que havia por baixo do anfiteatro onde decorreu a festa —, para pedir qualquer coisa de volumoso para simular a barriga e já estava de fato vestido e barbas na testa quando apareceu uma menina (por azar da sala da minha filha mais nova) que se vira para mim, de olhos muito arregalados, e grita: "O PAI NATAL É O PAI DA MARIA PEDRO..."
PÂNICO. TOTAL. Meti água. Asneira de da grossa. Vi logo que isto ia correr mal. Entrei logo, outra vez e num gesto de batman, para dentro do arrumo e só saí de lá quando me mandaram entrar em acção. Tive que ir dar uma volta por fora das instalações, para poder entrar pelos fundos do salão e percorrer o corredor central até ao palco, onde já estavam uma quantidade de sacos pretos carregados de prendas. Eu só levei um saco com as prendas para as meninas da sala dos 3 anos, como amostra.
Mas antes, como é habitual nestas festas, fartaram-se de gritar pelo Pai Natal, até que eu virei-me para a educadora da minha filha — a minha assistente no processo — e disse-lhe: "é melhor eu entrar já senão deixam os míudos roucos de tanto chamar pelo Pai Natal. O que vivi a seguir, não tenho grande qualidade para explicar. Mas só me ocorre a expressão extâse infantil. Histeria, mesmo. Completa loucura. Parecia que estava num concerto dos Beatles, nos anos 60, embora não tivesse reparado que alguma criança tivesse puxado os seus próprios cabelos.
É claro que passei pelas minhas filhas e disse-lhes especialmente adeus, de saco às costas, curvado (isto de ser Pai Natal com 30 anos é muito bonito mas há que manter a tradição do cansaço físico pelo peso do saco...), e nem me ligaram nenhuma. Aliás, a minha filha mais velha agarrou-se à perna da mãe e a mais nova ficou de boca aberta a olhar para mim (reconheceu-me os óculos).
No palco, na entrega das prendas, foi outra cena. Eu só tinha de entregar prendas às meninas, para o processo da entrega ser mais rápido, pois ao meninos eram as minhas assistentes. Mas ficou tudo de trocas voltadas pois também os meninos queriam receber uma festinha do Pai Natal. E um beijinho.
Digo mais: nunca, mas mesmo nunca mais me vou esquecer do brilho nos olhos de alguns dos meninos e meninas que lá foram receber as suas prendas, das minhas mãos. Daquelas sensações que nos fazem abrir o coração de tanta felicidade, por saber-se que estão verdadeiramente deliciados a olhar. São tão faladores — a avaliar pela minha filha mais nova, são umas matracas — e quando chegam à hora da verdade ficam calados, alguns de boca aberta, outros com um braçito esticado às barbas, mas agarrados ao pescoço dos pais.
E eu, sem fazer movimentos bruscos e com toda a serenidade que me foi possível debaixo daquela fato vermelho e de gorro, lá fui distribuindo os presentes e dando uma festinha aos que se mostravam mais à vontade com a figura do Pai Natal. Sim, porque eu bem vejo pelas minhas filhas o quanto elas o "adoram". Falam muito nele, mas quanto mais longe dos que estão nos centros comerciais, sentados cadeirões para fotorgrafias, melhor.

Quem engana as crianças?

O pior foi quando me fui despir e regressei à base, onde as minhas filhas já desembrulhavam as prendas. A mais velha nem tocou no assunto, não fosse o homem de vermelho (percebo porque é que ela é traumatizada com os homens de vermelho, pois acho que deviam vestir de verde...) voltar. Mas a mais nova disparou logo a sua metralhadora verbal, sem parar.
"O Pai Natal foste tu, pai" (pensei que se tivesse cruzado com a menina que me viu meio vestido)
"Não meu anjo, eu fui ao quarto de banho"
"Mas ele tinha os teus óculos..."
"Não, eu é que emprestei os meus óculos ao Pai Natal porque ele também não vê bem e esqueceu-se dos dele em casa"
Fez-se uma pausa e olhou-me de alto a baixo
"Mas tu tens bocadinhos das calças do Pai Natal nos teus sapatos..."
De facto, como o fato era novo e eu vesti as calças sem tirar os sapatos com sola de borracha que tinha, alguns dos pêlos da calças ficaram agarradas, dando um ar avermelhado às solas. Que eu nem tinha reparado.
"Isto foi porque eu fui ajudar o Pai Natal a ir embora, dizer obrigado pelas vossas prendas e fiquei com isto nos saptos"
Mas não adiantou de nada. Na hora seguinte perguntou-me três vezes porque fui eu que fiz de Pai Natal.
Não é por nada, mas não queria que a minha filha de quatro anos deixasse de acreditar no Pai Natal. Acho que uma das coisas que vou pedir ao Pai Natal, para mim, é que as minhas filhas não deixem de acreditar nele. Pois sou mesmo eu.





This page is powered by Blogger.



Comentários por HaloScan.com